terça-feira, 5 de abril de 2011

Camel Trophy - Amazonas

Apesar de ainda não se chamar Camel Trophy oficialmente, esta foi a aventura que deu início ao evento. Em 1980, 3 equipes da Alemanha, com 2 elementos cada, propuseram-se a percorrer 1600km da Rodovia Transamazônica.

Projetada pelos militares Brasileiros em 1970 e inaugurada em 30 de agosto de 1972, a Rodovia Transamazônica (BR-230) é a terceira mais longa rodovia do Brasil, com 2,300 km dos quais na época apenas 175km eram asfaltados. Ela corta os estados brasileiros do Pará e Amazonas e nasce na cidade de João Pessoa na Paraíba.


A sua construção foi planejada para integrar melhor o Norte brasileiro com o resto do país. Pretendia-se, assim, dotar a área de infra-estruturas que permitissem a fixação da população no local.

A obra implicou o abate de milhares de árvores, a construção de centenas de pontes e a deslocação de milhões de metros cúbicos de barro vermelho. Mas a Natureza não perdoou a intromissão Humana e, em pouco tempo, recuperou a faixa criada na Amazônia, fazendo com que durante uma parte do ano, a estrada fique submersa. O Governo Brasileiro da época a chamou de “Estrada do Século”, mas os habitantes da zona e os seus utilizadores batizaram-na de “Auto-estrada das Lágrimas”. Devido às más condições em que se encontra, lama e barro existentes ao longo da via e às diversas dificuldades adicionais, nessa época ela torna-se quase intransponível.


Segundo a história, por confirmar, desta primeira edição, os três veículos utilizados foram alugados localmente na Hertz locadora de veículos. Às 06:00 do primeiro dia de viagem, os participantes puderam preparar os Jipes CJ5 com todo o equipamento que iria garantir o sucesso da aventura. Com início em Belém, seguiriam para Oeste, até alcançarem Santarém, percorrendo zonas da densa floresta Amazônica, alimentada pelo grande rio Amazonas.

O pó levantado pelos veículos era muito, já que a estrada de terra se encontrava bastante seca, pois já não chovia há algum tempo. Para que pudessem respirar no meio de tanto pó, os participantes tiveram de recorrer a máscaras.

Poucos km depois do início da viagem, enquanto percorriam a acidentada estrada, o resultado da preparação às pressas dos veículos foi visível, na forma de algum equipamento que ficou solto e caiu dos Jipes. Isto provocou uma grande demora nesta primeira etapa, pois foram obrigados a parar por diversas vezes, para reorganizar o equipamento e garantir a sua segurança.



Ao chegar em Tocantins, era necessário apanhar uma balsa, que não era mais do que uma jangada de madeira. Entretanto havia uma fila de carros que aguardavam o embarque, mas a caravana já tinha perdido muito tempo e não poderia dar-se ao luxo de continuar a perder. Assim, a solução foi “incentivar” a polícia local, responsável pelo embarque, a deixar passar os três Jipe na frente de todos os outros carros. 400 cigarros e algumas camisetas foram suficientes, e permitiu que pudessem atravessar o rio ao início da noite.
Após o desembarque, já noite a dentro, os participantes tiveram de percorrer os 80km seguintes com bastante cuidado e em marcha lenta, já que se tornava quase impossível ver os obstáculos encontrados pelo caminho, recorrendo apenas aos fracos faróis dos Jipes.

Chegaram a Marabá, uma cidade de mineração que naquela época mais lembrava as cidades do Velho Oeste Americano. Durante a corrida do ouro, a cidade viu a sua população aumentar, em dois meses, de 15 mil para 100 mil habitantes. Mais facilmente se encontrava ouro, do que eletricidade ou água potável.

Os organizadores da viagem tinham conseguido assegurar o alojamento dos participantes, meses antes, num hotel local. Cada quarto ficaria por $2.00/cama. No entanto, devido à “febre” do ouro, todos os quartos tinham sido já alugados, por $50.00 cada!

Sem quartos onde ficar, coube aos dois mecânicos de apoio, os brasileiros Alberto e Luiz, procurarem alojamento alternativo. Algum tempo depois, voltaram com boas notícias: tinham encontrado quartos vagos, para todos, mas… eram no bordel local. Não havendo outra alternativa, tiveram mesmo de passar a noite em camas que, apesar de terem sido preparadas para a comitiva, estavam cheias de pulgas.

Na manhã seguinte, o médico que acompanhava o grupo, o Dr. Jurgen Aschoff, teve de dar a toda a equipe pomadas para aliviar as coceiras.

A estrada em que seguiram, no segundo dia de viagem, à saída de Marabá, continuava a ser tortuosa e bastante calma. Cruzaram apenas com 3 caminhões, estando um deles capotado na beira da estrada. Grandes buracos e atoleiros continuaram a fazer parte do percurso, tornando a condução difícil.

Um dos Jipe dos participantes já mostrava sinais de desgaste, com problemas no carburador. Além disso, o peso do pneu sobressalente montado no capô, aliado à trepidação causada pelo terreno, fez com que as suas fixações se partissem. Um dos galões montados no para-lamas direito perdeu a sua tampa e começou a espalhar gasolina por cima do capô e do compartimento do motor. Um dos participantes tentou dar o alerta, mas foi muito tarde. O veículo pegou fogo, não dando possibilidade nenhuma de o salvar. Foi perdido assim completamente o veículo e equipamento da dupla Manfred Berger / Richard Knar.

Depois deste acidente, a comitiva ficou reduzida às duas equipes restantes, acompanhadas pelos dois mecânicos Brasileiros, uma equipe médica, a organização e uma pequena equipe de filmagem.

A viagem continuou por caminhos enlameados e cruzamentos de rio. Diversas horas foram dedicadas a desenterrar os carros, a empurrar e a puxar. Nenhum deles estava equipado com guincho, o que tornava a tarefa mais trabalhosa.

Logo conseguiram chegar a Itaituba, uma cidade também dominada pelo ouro, mas bastante diferente de Marabá, no sentido em que a prospecção do ouro foi feita de forma organizada e controlada por apenas algumas pessoas, com mais recursos financeiros. Para efetuar o transporte de equipamento, trabalhadores, mantimentos, medicamentos, etc. para as diversas minas espalhadas pela selva, foi utilizado um pequeno aeroporto. Também o ouro era, depois, transportado da mesma forma, das minas para Itaituba. Todos os aviões utilizados neste transporte pertenciam à mesma pessoa.

Ao sair de Itaituba, em direção a Santarém, os participantes entraram na fase final da viagem. Pelo caminho, aproveitaram para reabastecer os veículos em todos os “postos de gasolina” por onde passavam. Na verdade, estes “postos” eram apenas umas cabanas de madeira, com bombas enferrujadas de combustível misturado com água da chuva. Para fazer a transferência do combustível contaminado para os tanques dos carros, era utilizado mangueiras.

Perto de outra travessia de balsa, e já a 12km do final da viagem, um dos Jipes fura mais um pneu, porém agora não havia nenhum outro para substituição. Isso não o deteve, tendo prosseguido a viagem sem o substituir. A trepidação provocada era tanta, que o suporte da capota não agüentou e partiu-se. A tripulação limitou-se a tirar a capota e a deixá-la na selva.

Finalmente, e apesar de tanto os veículos como os participantes já terem sofrido bastante, conseguiram chegar ao final: o Hotel Tropical, em Santarém.
No entanto, tiveram mais um obstáculo: o porteiro do hotel não queria deixar entrar as equipes. Claro, depois de 12 dias expostos ao calor, umidade, insetos e terreno acidentado da floresta Amazônica, ainda tiveram de convencer o gerente do hotel que eles eram, de fato, quem tinha reservado os quartos.

Ao entrarem no hotel, deixaram para trás uma guerra contra mosquitos e sanguessugas, fome e sede, exaustão e desespero. Mas venceram-na e, acima de tudo, venceram a si mesmos.

Com todas estas dificuldades, nascia a lenda do Camel Trophy.

No seu regresso à Europa, os participantes foram recebidos como heróis, não tendo a consciência, na altura, que tinham conquistado a imaginação de diversas nações pelo mundo inteiro. Ninguém ligado a esta primeira edição poderia imaginar o crescimento que o Camel Trophy teria nos anos seguintes e o sucesso que iria atingir.

Resumo da edição
Veículos dos participantes: Jeep CJ5
Veículos de apoio: desconhecido
Distância percorrida: 1400km em estrada
Equipes:
Alemanha - Klaus Karthna-Dircks / Uwe Machel (vencedores)
Alemanha - Fritz Fuchs / Heinrich Schoner
Alemanha - Manfred Berger / Richard Knar (não terminaram)


Eu quero fazer uma dessas em um Land Rover!!!

5 comentários:

  1. transamazonica foi mais um elefante branco dos delirios da ditadura militar...gastou-se rios de dinheiro publico sem o minimo estudo sobre o terreno do local, alias educaçao nunca foi o forte da ditadura mesmo huahuaha....

    eu tenho em vhs um doc sobre esse evento vou qualquer dia desses passar pra vhs.

    no youtube tem quase todas as ediçoes no camel que parece que terminou por divergencias dos promotores....e vale ressaltar que em 2000 teve uma ediçao de lanchas

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  2. Eu não iria saber pq ele foi interrompido, aí veio o Alucar e nos brinda dizendo que foi por divergencias, e ainda por cima solta que teve um Trophy com lanchas, adoro este BLOG!!

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  3. Camel é uma marca de cigarros de tabaco fundada em 1913, proprietário da marca: R.J. Reynolds Tobacco Company e em 1999 cedeu a exploração internacional ao grupo Japan Tobacco Inc., terceiro maior fabricante de tabaco do mundo. Talvez ela não tenha se interessado em manter o evento. A marca patrocinou várias competições importantes como IMS, que de 1972 a 1983 era conhecida como CAMEL GT; o famoso rali CAMEL TROPHY entre 1980 e 2000; a escuderia de Fórmula 1 Lotus entre 1987 e 1991; e a equipe Honda no campeonato mundial de Superbike na década de 90.

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  4. procurando pela internet a divergencia foi entre os organizadores e a propria land rover que passou a nao gostar mais da nova proposta idealizada pro camel.

    hj existe um campeonato organizado pelos idealizadores do camel chamado de The G4 Challenge

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