quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Dodges no Brasil, história





Em setembro de 1967 um norte-americano alto e calvo passou a dirigir a Simca do Brasil, anteriormente comandada pelo engenheiro francês Jean Jacques Pasteur. Seu nome: Victor G. Pike. Sua missão: abrir caminho para a produção dos Dodge Dart nacionais. Como responsável pela implantação da nova marca, a primeira medida de Pike, que já havia trabalhado por 16 anos na Chrysler australiana, foi ordenar -acredite- que o piso da fábrica de São Bernardo do Campo (SP) fosse limpo, o que não acontecia há anos. A produção dos Chambord, Jangada, Esplanada e Regente foi então paralisada por três dias, tempo suficiente para que 500 dos 1700 empregados fossem demitidos.




O único setor que ganhou alguns funcionários -num total de 17- foi o de limpeza. Os faxineiros "arregaçaram as mangas" e, neste mesmo prazo, deixaram o assoalho -que se escondia sob uma grossa camada de graxa- brilhando como novo, ficando do mesmo jeito que estava no dia da inauguração, muitos anos atrás, quando ali eram montados os Chrysler, Dodge e Plymouth importados em CKD pela Brasmotor. Posteriormente a Chrysler suspendeu a montagem dos antigos Simca, produzindo a linha Esplanada até 1969 e, em julho daquele mesmo ano, foi fabricado o primeiro Dodge Dart nacional, resultado de um investimento de US$ 55 milhões.



O novo modelo -lançado na versão quatro portas - iria concorrer com os chamados "automóveis de representação', como o Itamaraty e o Galaxie, da Ford-Willys e o Opala, da GM. Inicialmente a Chrysler decidiu colocar no mercado apenas a versão standard, com acabamento mais simples, oferecendo alguns equipamentos opcionais, caso do teto de vinil e da pintura metálica.


O motor -fundido nas instalações da antiga fábrica da International Havester, em Santo André (SP)- era o mesmo dos caminhões D-700, o clássico 318V8 de 5.212 cm3 e 198 cv de potência máxima a 4.400 rpm que, apesar de alimentado por um péssimo carburador duplo DFV permitia ao veículo desenvolver mais de 180 km/h, fazendo o Dart tornar-se o mais veloz carro brasileiro de produção seriada.

Várias Cores

Estes primeiros modelos eram fabricados em seis cores: Amarelo Carajá, Azul Profundo, Azul Abaeté, Verde Imperial, Branco Polar e Preto Formal. Foram fabricadas 3.366 unidades em 1969. No ano seguinte a Chrysler, já dirigida por Joseph O'Neill, alcançou a meta de produzir 60 carros/dia. Assim -e já com freios dianteiros a disco ventilados opcionais- o Dart, líder de vendas no mercado de carros de luxo, passou a ter penetração de 41,4% neste setor, desbancando os concorrentes e ganhando o título de "Carro do Ano". De fato, enquanto um Dodge era oferecido na época por cerca Cr$ 26 mil, um Galaxie standard -seu maior concorrente- saia da loja por quase Cr$ 28 mil.



O modelo duas portas -nas versões básica e Luxo, como o seda - apareceu em 1971, ao preço de Cr$ 24.500,00, oferecendo como itens de série rádio, limpador de pára-brisas de duas velocidades , acendedor de cigarros, luzes de ré e refletores laterais. Baseado neste mesmo modelo foram lançados o Charger LS e o Charger R/T, ambos com barra estabilizadora dianteira e coluna traseira alongada, lembrando um fast-back, tipo de carroceria muito em moda na época. As diferenças entre os dois ficavam por conta do acabamento, da potência do motor e do câmbio.

O Charger LS tinha rodas de aço e calotas do Dart de Luxo, pneus faixa branca, câmbio de três ou quatro marchas (neste último caso, a alavanca era no assoalho) e bancos individuais na dianteira. Como opcional havia a direção servo-assistida e freios a disco nas rodas dianteiras. O motor desenvolvia 205 cv. No R/T -que só utilizava gasolina azul - os equipamentos citados no LS eram itens standard, mas as rodas eram do tipo Magnum, os pneus vinham com faixas vermelhas e o motor tinha 215 cv de potência máxima, o que permitia alcançar quase 200 km/h

As cores disponíveis eram as mesmas da linha Dart acrescidas das metálicas Vermelho Xavante, Ouro Espanhol, Verde Fronteira, Cinza Bariloche e Verde Minuano, mas também haviam as exclusivas Verde Tropical e Amarelo Boreal, só oferecidas para os Charger LS e R/T. Neste ano também foram montados pela Brasinca -sob encomenda da Chrysler- alguns protótipos da wagon Dart, baseados no modelo de quatro portas, e não se sabe que fim levaram estas carrocerias. O carro nunca entrou em produção. Foram feitos 10.337 Dodge V8 em 1970 e 15.368 em 1971. Neste ano, com uma produção média de 45 automóveis / dia, de cada 100 Dart que saíam da linha de montagem, 65 eram duas portas.

Em 1972

O modelo 1972 do Dart ganhou um novo friso cromado horizontal, mais largo, que enfeitava a grade pintada de preto-fosco; as lentes dos piscas passaram a ser da cor laranja; o logotipo "Dodge", que ficava no centro do capô, foi deslocado para a esquerda deste; a lateral ganhou dois filetes finos, brancos ou pretos, dependendo da cor do veículo, e as lanternas traseiras passaram a ser divididas em três seções e ter moldura em plástico. No interior o painel preto com detalhes prateados foi revestido com plástico imitando jacarandá, enquanto os instrumentos foram redesenhados: o amperímetro e o manômetro de óleo deram lugar a um conjunto de luzes-espia. Para completar, uma só alavanca passou a reunir o controle do ventilador -de duas velocidades- e o regulador de distribuição de ar.

Ainda em 1972 foi lançado o Dart SE -no dia 24 de maio -e os Gran Sedan/Gran Coupé -em 16 de outubro. O primeiro -cujo slogan publicitário era "O carro para quem não quer passar dos trinta, pois custava inicialmente Cr$ 29.868,00- era um modelo básico transformado em esportivo -que, diga-se de passagem, vendeu muito bem, já que era uma espécie de 'popular de luxo" - e os outros dois eram versões mais luxuosas dos Dart comuns, destinados a uma clientela mais sofisticada. Neste ano 15.593 Dodge V8 -de todos os tipos -foram fabricados.

Para 1973 os Charger e Charger R/T -que era visto nos anúncios com a frase "Vamos acabar com essa brincadeira de carro esporte com menos de 200 hp"sofreram um face-lift, ficando muito diferentes dos modelos anteriores, O desenho da dianteira -envolvida por uma moldura dividida em duas partes- deixou estes carros ligeiramente semelhantes aos Charger norte-americanos, no entanto, o desempenho continuou o mesmo, pois não houve modificações mecânicas. As travas externas e as faixas pretas foram eliminadas do capô do R/T, mas surgiram os espelhos com controle remoto e falsas entradas de ar, instaladas longitudinalmente acima de cada uma das bancadas de quatro cilindros do motor V8.

Além disso, o R/T ganhou novas faixas laterais, enquanto o LS vinha com dois filetes brancos finos na parte superior das laterais, como os Dart. As lanternas traseiras foram modificadas, ficando sem divisões e, entre elas, na tampa do porta malas, aplicou-se um novo friso, opaco. Os bancos também foram redesenhados. No painel, os instrumentos receberam uma faixa vermelha delimitadora após os 2O km/h, mas os ponteiros, quase da mesma cor do fundo, praticamente desapareciam à noite. Em 1973 foram produzidos 17.939 automóveis das linhas Dart/Charger, o melhor ano destes carros no Brasil.

Em Crise

Com a crise do petróleo, entretanto, as vendas caíram de maneira considerável, bem como o valor de revenda de todos os carros -nacionais ou importados- com motor V8. Em 1974 a produção caiu para 11.318 unidades, só não despencou ainda mais porque, nos últimos meses daquele ano, ocorreu um providencial descobrimento de novas jazidas de petróleo no litoral fluminense.


Para 1975 os Dodge V8 passaram a ser equipados com o "Fuel Pacer', sistema instalado junto ao carburador que, quando a mistura ficava rica demais, acionava a lâmpada direcional do para-lama esquerdo. Assim, o motorista aliviava a pressão do acelerador -ou utilizava a marcha correta para aquela velocidade- e o carro passava a consumir menos combustível.

Nessa época, a Chrysler montou e começou a testar blocos de seis e quatro cilindros em ,V', todos derivados do 318V8, bem como o motor de seis cilindros em linha do Valiant argentino, mas nenhum foi produzido em série. A desvalorização foi tão grande que, no mercado de usados, um Dart 1969 valia em dinheiro da época apenas Cr$ 9,5 mil, contra Cr$ 13 mil do Corcel standard e Cr$ 11 mil do Volkswagen 1300 fabricados no mesmo ano, veículos que, quando novos, custam menos da metade do valor do Dodge.


No ano seguinte o estofamento foi redesenhado, mas os modelos SE, Gran Coupé e Charger saíram de linha, O R/T passou a ser equipado com bancos anatômicos, sendo os dianteiros de encosto alto, reclináveis, mas sem regulagem milimétrica. Este modelo também passou ter volante igual ao utilizado no restante da linha Dodge, deixando de lado o modelo com três raios, mais esportivo. Para completar as novidades deste ano, foi apresentado, no Salão do Automóvel, o protótipo de um Dart movido à álcool.

No R/T de 1977 a taxa de compressão foi reduzida, passando de 8,4:1 para 7,5:1, o que diminuiu a potência do motor em 10 cv, mas permitiu a utilização da gasolina comum, pois a azul já começava a rarear. Internamente o carro era revestido em couro, disponível nas cores preto, caramelo e vinho, esta última uma novidade, O Dart com alavanca na coluna de direção -de três marchas- tinha escapamento simples, ao contrário do modelo com alavanca no assoalho -de quatro marchas- que vinha com escapamento duplo, igual ao do Charger.



Dos equipamentos que eram opcionais nos modelos básicos do ano anterior, viraram itens standard as luzes do motor, do porta-malas e da iluminação do cinzeiro; ventilação interna com motor elétrico; relógio elétrico; freios a disco com servofreio; ponteira do escapamento cromada; tapetes de buclê; revestimento da porta e painel lateral traseiro almofadados e placa metálica protetora junto ao fecho do quebra-vento. Em 1978 foram montados os últimos Gran Sedan.

Para 1978

Sumiram as entradas de ar falsas do capô do R/T, enquanto o teto de vinil passou a cobrir apenas a metade traseira da capota, conforme já ocorria nos Maverick e Opala -que, inclusive, iniciou esta moda com o modelo Las Vegas. Uma nova calibragem no sistema de carburação tornou o carro um pouco mais econômico e, como de costume, as faixas laterais foram modificadas, tornando-se bem mais largas, posicionadas na parte baixa das laterais. Nesta época um Dart sedã 1969 usado valia Cr$ 25 mil, metade do valor de umVolkswagen 1300 do mesmo ano.

No final de 1978, a montadora apresentou as mudanças para seus carros, incluindo duas versões bem luxuosas para 1979, o Magnum (de duas portas) e o Le Baron (de quatro portas). Ambos foram criados para dar uma sobrevida para a linha Dart -já descontinuada nos Estados Unidos desde 1976- e absorver o público acostumado aos automóveis estrangeiros, que tiveram sua importação suspensa. Foi realizado um "face-lift" na dianteira e traseira, modificação feita por estilistas brasileiros, onde substituíram-se parachoque, molduras de faróis e grades de radiador, tudo sustentado por uma estrutura de fibra-de-vidro, enquanto a traseira passou a ser idêntica à do modelo norte-americano de 1974, com lanternas horizontais.

O Magnum tinha calotas raiadas, teto solar opcional (em vidro e com acionamento elétrico, outro pioneirismo do modelo aqui no Brasil) e teto de vinil dividido em duas partes. Havia ainda uma moldura junto aos vidros laterais traseiros, além de vidros rayban e para-brisa degradê. Como equipamento de série, a Chrysler, passou a oferecer antena de acionamento elétrico e um conjunto com toca-fitas AM/FM estéreo e dois autofalantes coaxiais, instalados na traseira, equipamento disponível tanto para o Magnum quanto para o Le Baron e Charger R/T.

O Charger R/T também reestilizado, apesar de ter perdido o contagiros -substituído por um relógio- e a coluna traseira alongada, tinha três opções de pintura em dois tons -marrom metálico e bege, azul escuro metálico e azul claro metálico e preto e prata- e era vendido com rodas de liga leve, tornando-se, o primeiro carro nacional de série assim equipado. Como no Magnum, havia molduras nos vidros laterais traseiros, mas as do R/T eram no estilo "persianas".

Também com a nova traseira, o Dart passou a ser fabricado utilizando a mesma frente do modelo norte-americano de 1974. Volante, estofamento, painel de instrumentos, carpete e laterais de portas passaram a ser disponíveis nas cores bege, azul ou preta. Os bancos eram forrados em veludo de nylon antiestático e o tanque foi modificado, passando a ter 107 litros de capacidade -contra 62 do modelo anterior- ocupando o lugar do estepe, que foi deslocado para uma posição acima do eixo traseiro, como no Galaxíe.

Mentira no Fim

O fim, entretanto, estava próximo:em janeiro de 1979 a Volkswagen alemã finalmente comprou 67% das ações da Chrysler brasileira. Em abril do mesmo ano Toni Schmueker -presidente mundial da VW- Wolfgang Sauer -presidente da Volkswagen do Brasil- e Donald Dancey -presidente da Chrysler- visitaram as instalações da linha de montagem dos automóveis Dodge e, juntos, anunciaram a intenção de ampliar a produção dos Polara, Dart, Charger R/T e Le Baron.


Em maio, Klaus Hadulla -substituto de Dancey- reafirmou o compromisso de não interromper a fabricação da linha Dodge, além de divulgar o interesse da VW em ampliar a rede de revendedores Chrysler, que ganhariam mais 24 lojas -haviam 117 na ocasião- atingindo um total de 180 dentro três ou quatro anos. Era uma mentira, suficiente apenas para dar credibilidade aos carros e desovar os modelos que estavam estocados no pátio.

A produção dos Dodge V8 em 1980 foi de apenas 388 unidades, e o Charger R/T praticamente desapareceu, transformando-se num modelo comum, sem nenhum diferencial além do emblema. Em novembro de 1980 a VW comprou o restante das ações da empresa e, em abril de 1981, Sauer afirmou que só poderia vender automóveis se houvesse demanda, e que todos sabiam que não existia demanda para os automóveis Dodge, dando como exemplo o Dart, que em dois meses não vendera sequer uma unidade.


O presidente da montadora alemã disse ainda que estes carros seriam fabricados, no máximo, por apenas mais seis ou sete meses, raciocínio que rapidamente se concretizou: no mês de agosto a VW parou de fabricar tanto a Variant II quanto os veículos da linha Dodge. A montadora alemã passou a utilizar as antigas instalações da Brasmotor/Simca/Chrysler para produzir seus caminhões -a álcool e a gasolina equipados com o motor 318 V8, encerrando assim a história dos Dart/Charger no Brasil.

Texto retirado da revista Auto & Técnica/Classic Cars nº 21

2 comentários:

  1. Muito bem, vamos as minis agora! Duvido que tenha do Dodge Polara, o Dodginho!

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  2. Ahhhhhhhhhhhhhh o Polara eu vou ficar devendo mas o dodjão eu tenho!

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