sábado, 18 de fevereiro de 2012

O enterro da Ferrari

  • Retirado do Blog Jalopic

O mistério por trás da Ferrari enterrada em um quintal


Estas fotos, tiradas em fevereiro de 1978, mostram uma Dino 246 GT sendo desenterrado do quintal de uma casa em Los Angeles. As fotos circulam pela Internet há alguns anos. Mas qual a sua história? Como ela foi parar debaixo da terra, e onde está agora?
Antes, um breve relato. Em maio de 1977, Sandra Ilene West, vestida em seu melhor traje de gala e sentada ao volante de sua Ferrari 330 America 1964, foi instalada em um mausoléu de concreto – como seu testamento havia instruído.
A viúva de 37 anos de um texano do ramo do petróleo faleceu de uma overdose acidental de remédios prescritos em sua casa em Beverly Hills. Ela e o carro foram enviados para a cidade de San Antonio para que pudesse descansar ao lado do túmulo de seu marido. Isso mesmo: ela E o carro. Depois que os trabalhadores instalaram os dois em seu descanso final, dois caminhões despejaram cimento no bunker para desencorajar ladrões de carros interessados no veículo.
A história da Ferrari subterrânea da Sra. West foi capa de jornais e revistas naquele ano, e nas décadas que se seguiram entrou para o rol dos mitos sobre a Ferrari. Mas este não foi o único modelo de esportivo italiano que chamou a atenção dos norte-americanos no final da década de 1970.
Quase um ano depois, um grupo de garotos cavava a lama fora de uma casa no número 1137 da rua 119 W na região de West Athens em Los Angeles. Logo abaixo da superfície, encontraram algo que parecia o teto de um carro. Logo deram sinal para uma viatura que passava pelo local.
Priscilla Painton, repórter do Los Angeles Times, registrou o que aconteceu na sequência. A história revelou um tesouro de quatro rodas que dois detetives desenterrariam de uma casa de subúrbio. Quando a notícia chegou aos jornais do país, muitos se lembraram do estranho caixão italiano da Sra. West, mas neste caso o banco do motorista estava vazio.
Atacando o quintal com uma mini escavadeira e um pequeno exército de homens munidos de pás, os detetives Joe Sabas e Lenny Carroll revelaram uma Dino 246 GT (número de série 07862) verde metálico escuro. Em seu artigo, publicado no dia 8 de fevereiro de 1978, Painton escreveu que o carro parecia estar em um “estado surpreendentemente bom”, e estimou um valor de cerca de US$ 18.000 (cerca de US$ 63.500 corrigindo pela inflação do período).
Os fãs da Ferrari notaram que a Dino havia sido equipado com rodas Campagnolo opcionais e assentos Daytona. Os investigadores descobriram a origem do carro – de placa 832 LJQ – comprado em outubro de 1974 por Rosendo Cruz de Alhambra, Califórnia. Em 7 de dezembro de 1974, Cruz notificou que o carro fora roubado, e o relatório da polícia foi mantido em um arquivo na divisão Rampart do Departamento de Polícia de Los Angeles.
Mas o mistério permanecia. Como a Dino foi parar ali? Os moradores da casa (que se mudaram havia três meses) não tinham explicação, e nenhum dos moradores da região disse que haviam percebido algo de estranho na casa em 1974. Isso chamou a atenção do detetive Sabas. Afinal de contas, ele brincou, enterrar uma Dino não é “como enterrar repolhos”. Quem o enterrou obviamente esperava retirá-lo de lá; eles tentaram mumificá-lo com plástico e colocaram toalhas nas principais tomadas para evitar a visita de vermes.
Sem pistas, o caso da Ferrari roubada e enterrada logo caiu no ostracismo. Os policiais haviam declarado o incidente original como um “roubo comum”. A seguradora Farmers Insurance Group concordou com a polícia e pagou um prêmio de US$ 22.500 ao dono legal da Dino, a filial de Hollywood do Bank of America. Não havia mais nada a ser feito. O carro desenterrado foi levado à seguradora, que conduziria seus procedimentos de praxe.
O fotógrafo Michael Haering registrou o ocorrido para o Los Angeles Herald Examiner. Ele se lembra do caso devido à sua peculiaridade e à coincidente conexão com o enterro da Sra. West.
Nós (a imprensa) na época ficamos intrigados e curiosos com o fato de um ladrão enterrar um carro, especialmente em um quintal. Muitas piadas foram feitas na época, inclusive.
Durante o período houve a história [da Sra. West e seu caixão] e surgiu a questão se aquilo poderia ser legalmente feito. A imprensa comparou as duas histórias que chamaram muita atenção. E depois claro, foram esquecidas com o decorrer do tempo.
Mas a história não parou por aí. O escritor Joe Scalzo encontrou uma pista da Dino em 1986, muito tempo depois de sua exumação, e seguiu rastro de sua vida antes de ser enterrado.
Originalmente encomendada pela Modern Classic Motors em Reno, Nevada, seu novo destino, como parte de um lote de 10 unidades, foi a Griswald Motors na região da Baía de São Francisco. Ela ficou na loja da Market Street por apenas duas semanas quando foi vendida para um lugar a 650 km ao sul de Los Angeles. O comprador foi novamente uma das 46 lojas da Ferrari nos Estados Unidos na época, a Hollywood Sports Cars. Foi uma concessionária famosa por vender Ferraris a pessoas como Frank Sinatra, Perry Como, Sammy Davis Jr., Pat Boone, William Holden e Jayne Mansfield. A Hollywood Sports Cars vive não só das vendas para a turma das colunas sociais, assim, no final de outubro por um preço de US$ 22.500, a Dino foi comprada por um encanador [nota do editor: cuma?] como presente de aniversário para sua esposa.
A mulher rodou cerca de 800 km. Então, no dia 7 de dezembro, a noite de seu aniversário de casamento, o casal visitou o restaurante Brown Derby na Wilshire Boulevard, o encanador logo ficou intrigado com o brilho nos olhos dos manobristas. Ele deixou o carro na rua. Onde outros olhos também devem ter brilhado, já que ao voltar de seu jantar de aniversário o carro já não estava lá.
Depois foi encontrado debaixo da terra. Mas ao citar que o carro foi recolhido em um estado “surpreendentemente bom”, o texto do LA Times criou um frenesi, e a secretária da Farmers foi soterrada por ofertas de compra. O investigador da seguradora, Tom Underwood resolveu que seria apropriado dar uma olhada e ver se o estado do Dino era condizente com a reportagem. E não era.
Como escreveu Scalzo,
As 21 camadas de tinta do Dino foram manchadas por uma substância branca. A ferrugem abriu úlceras na carroceria Pininfarina e se espalhou por toda a parte, incluindo o elegante interior de couro (os brilhantes bandidos colocaram toalhas nos vidros, mas se esqueceram de erguê-los até o fim).
Os danos se estenderam às rodas e devoraram parte do motor. Os dois escapamentos estavam tomados por lama. O impacto que a pobre Dino absorveu ao ser retirado do buraco também deve ter sido horrível, porque o capô estava parcialmente amassado, com riscos terríveis e cortes pelo teto, e o para-brisas estava destruído.
Era tudo tão triste, e sem esperanças, que Tom Underwood pode terminar sua investigação em tempo recorde. Qualquer ideia de que alguém fora da fábrica da Ferrari pudesse restaurar a Dino para algo que lembrasse seu estado original parecia mera ilusão.
Nesta época, a Farmers recebia tantos telefonemas a respeito do carro que os responsáveis pela empresa temiam uma crise de relações públicas. Underwood teve uma ideia. Ele expôs o carro ao público. A Farmers levou a pobre Dino a um armazém em Pasadena, onde ficou à mostra durante duas semanas. A empresa convidou os visitantes a fazerem propostas. Mas o plano não deu certo. Scalzo escreveu, “depois de duas semanas, ele voltou à Farmers sem praticamente tudo que não estava parafusado, incluindo a vareta de óleo. Poucas ofertas concretas foram enviadas”.
E assim, Underwood convidou aqueles que haviam telefonado para enviar ofertas. Poucos fizeram, mas só precisaram de um para vendê-lo. Uma oferta alta entre US$ 5.000 e 9.000 transformou a Dino na propriedade de um jovem mecânico com sua própria oficina na Burbank Boulevard em San Fernando Valley. Depois de um novo alternador e distribuidor, ele até conseguiu dar a partida. E então os anéis do cilindro emperraram. Scalzo acompanhou a história.
Depois, o jovem mecânico se mudou da garagem na Burbank Boulevard e não deixou o novo endereço, então ele ou terceiros completaram a impossível restauração do Dino. Devidamente registrada e licenciada [com uma placa com as letras “DUGUP”, desenterrado] com o departamento de trânsito da Califórnia, a Dino voltou ao que espero que tenha sido muitas arrancadas pelos bulevares e as grandes avenidas de LA.
Mais de 30 anos depois de sua descoberta, este exemplar continua fora dos registros do modelo. O que não significa que não esteja por aí. Por sinal, talvez esteja.
Crédito das fotos: Michael Haering.

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