sexta-feira, 22 de julho de 2011

Carcará, 1/43

O Carcará estabeleceu em 1966, um recorde brasileiro até hoje absoluto !

por Anisio Campos, Emilio Camanzi, Bob Sharp, Nehemias Vassão, Flávio Gomes e Carlo Gancia


Antes de começar esse capítulo do nosso site, lembramos que dia 29 de junho de 2006 é o aniversário de 40 anos desse recorde histórico do Carcará. Ficamos muito felizes por que as mídias especializadas - dá lhe Jason Vogel !! - estão preparando matérias sobre o fato e ocorreram diversas solicitações de fotos de nosso acervo.

De nosso lado, formatamos um grupo de trabalho formado por Anisio Campos, Roberto Renner, Dan Palatnyk e Lafayete Fantossi para finalizar o projeto tri-dimensional em computador do Carcará, com perfeição total em todos os detalhes com a maquete em escala sendo feita no LAMOT - Laboratório de Modelos Tridimensionais do INT - Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro.

Foram produzidas e vendidas no evento bia-anual "Motoring Arts" - 10 a 19 de outubro de 2006 - quarenta miniaturas do Carcará em escala 1:43 "Special Edition", autografadas por Anisio Campos com "Certificado de Autenticidade" da miniatura.

Completamente fiel ao modelo original, inclui todos os detalhes e grafismos, todas as unidades foram imediatamente vendidas ao preço de R$1.000,00 em pré-reservas, confirmadas através do e-mail sac@obvio.ind.br.

Anisio e a miniatura do Carcará com "display" do recorde.







A outra excelente notícia é que o Colecionador Gaúcho Antonio Trevisan encomendou ao
 "Carrozziere" e Mestre Toni Bianco um segundo exemplar do Carcará, que já está pronto e
começando a subir as escalas de velocidades alcançadas, utilizando motor original de DKW !

 Mestre Toni Bianco mostra suas ferramentas de alumínio e apresenta para Anisio sua visitação a partir
da obra do autor, portanto: “d’après Carcará de Anisio Campos”

F A B R I C A D O   N O   B R A S I L
Rodrigo Campos - filho do Anisio - em 1966 com 4 anos - "babando" na maquete do Carcará que ia ser
testada no túnel de vento do ITA - Instituto Tecnológico Aeroespacial em São José dos Campos
Numa manhã de sol de 29 de junho de 1966, no início da BR-2 Rio-Santos (atual Avenida das Américas, na Barra da Tijuca), onde atualmente está instalado o Supermercado Carrefour e o Bosque da Barra, um esquisito carro branco alinhou no retão da estrada ainda em construção, sob o olhar de pouquíssimas testemunhas.
O Carcará alinhado para a largada na BR-2: o bicho pegou, matou e comeu ...
Seu nome era Carcará. Na época, a canção de mesmo nome -- música de José Candido e letra de João do Vale -- foi cantada pela Nara Leão e também pelo Chico Buarque, além da Maria Bethânia e  fazia imenso sucesso no país: o pássaro que "pega, mata e come, mais coragem do que homem, o bicho que avoa que nem avião". Um libelo político pró-Nordeste, vale a pena ouvir. Naqueles tempos se fazia música de verdade no Brasil.
A carroceria de alumínio, batida a mão numa fazenda de Matão, interior de São Paulo, foi montada sobre um chassi de Fórmula Júnior, com motor central-traseiro, feito por Chico Landi e Toni Bianco, uma categoria que, como tanta coisa no Brasil, não vingou. O volante era tão grande -- para reduzir os problemas de estabilidade direcional -- que precisava ser colocado no cockpit depois do piloto sentado.
       
Anisio Campos, Chico, o "Mestre-Funileiro" e Jorge Lettry nos desenvolvimentos
na Fazenda Chimbó de Rino Malzoni, Matão - SP

      
         
O Carcará estava na estrada para estabelecer o primeiro recorde brasileiro de velocidade absoluta, que seria homologado segundo padrões internacionais de medição. Atingiu 214,477 km/h empurrado por um motorzinho DKW de 1.100 cm³ e extraordinários 104 cv depois de preparado pelo gênio Miguel Crispim, que varava noites limando as janelas dos blocos para mais que dobrar a potência de motores que saíam de fábrica com 44 cv.
Anisio dormia e acordava sobre o Carcará... como os estudos com guache branco
para projetar o leme e passar as idéias para a equipe de modelagem,
além dos grafismos diferenciadores a serem escolhidos ...

 
 

Na estrada de Matão para o primeiro teste... parecia um "disco voador" andando... era 1966 !
Anisio Campos e Rino Malzoni que assinavam o design e o projeto, colocaram a inscrição "CARROÇARIA MALZONI-CAMPOS" nas suas laterais, abaixo da faixa verde e amarela do Brasil. Inicialmente ele foi batizado de "Arpoador" por seu idealizador, Jorge Lettry - Chefe do Departamento de Competições da Vemag - que o criou a idéia para estabelecer o recorde brasileiro de velocidade absoluta em linha reta (streamlined), baseado no carro quebrador de recordes "Flecha Prateada", da Auto-Union alemã.


Os detalhes - incluindo o bico do Carcará - nos logos do 'streamlined" !


O "Silver Arrow" ou "Flecha Prateada" da Auto Union, o "streamlined" inspirador ...

Jorge Lettry e Mario César "Marinho" de Camargo Filho




  
 
Rino Malzoni,  Anisio,  Leszek Bilyk (ao volante) e Jorge Lettry

  
Anisio e Leszek Bilyk, da Quatro Rodas, no primeiro teste. Marinho e Anisio trocam impressões em Interlagos ...

Marinho e o Carcará em Interlagos
Durante o primeiro e único ensaio de "comportamento sobre a estrada", indo direto
para a saída da Curva 2 na grande reta (antiga) de Interlagos



  





Foram oito meses de segredo na fábrica -- que já estava em processo de fechamento, pois a DKW seria comprada pela Volkswagen no final de 1966 e sua linha de automóveis, descontinuada no ano seguinte -- e oito meses de trabalho, até que na manhã de junho na Rio-Santos, onde o piloto escolhido para bater o recorde, Mário César de Camargo Filho -- o Marinho --  não sentiu muita confiança naquele bólido e desistiu.
O Carcará estava ainda sem pintura (alumínio polido) e posteriormente foi pintado de branco
(cor tradicional da Vemag ) e enviado ao Rio de Janeiro de carreta para tentar estabelecer o recorde de velocidade.
Chico Landi e Anisio Campos examinam o "nariz" do "streamlined", após o teste do piloto Marinho,
que constatou tendência de decolagem, quando próximo dos 200 km/h.
Esta questionada dirigibilidade criou atritos entre Marinho, que era o piloto "número 1" da Equipe de Competições da Vemag e Jorge Lettry, que na última hora, convidou o piloto carioca Norman Casari, que acabou aceitando o desafio, mas sem antes colocar um volante de madeira com enorme diâmetro, para minimizar as reações em caso de necessidade, tornando a direção mais lenta. Afinal, o recorde seria em linha reta.

Alinhado no retão da BR-2 - atual Avenida das Américas - na Barra da Tijuca - Rio de Janeiro.

O projeto Carcará teve um grande padrinho: A Editora Abril, através do diretor de redação da Revista Quatro Rodas, Leszek Bilyk Ele tinha grande amizade com o Jorge Lettry e foi um dos grandes incentivadores em construir o carro. Tanto que fez com que a Editora Abril importasse um cronômetro Omega, com foto-células, moderníssimo para a época, apenas para bater o recorde. Isto é, houve um patrocínio e grande incentivo de Quatro Rodas, tanto que o logotipo da revista está nas laterais do Carcará.

Norman Casari, pronto para decolar o Carcará ...

Rino Malzoni, Norman Casari e Anisio Campos: os Designers e o Piloto do recorde brasileiro até hoje absoluto.....

Jorge Letry (esq.), o piloto Norman Casari, Anisio Campos e Rino Malzoni -- ao fundo a Rural
Willys da revista Quatro Rodas -- usada para carregar o sistema de cronometragem Omega,
adquirido especialmente para medir o recorde do Carcará.
O carro assustava. "A gente se escondia atrás de um Candango quando ele passava, de medo que o Norman fosse perder o controle", conta Crispim. Os pneus escolhidos, Pirelli Cinturato garantidos até 240 km/h, tiveram de ser trocados, na frente, por modelos de rua Stelvio ST-17 Spalla di Sicurezza, diagonais, tirados da Vemaguet de outro piloto e então funcionário da Vemag, Bob Sharp -- que participou do evento -- haviam sido feitos para rodar no máximo a 150 km/h. Os Cinturato tinham muita aderência e o carro entrava em pêndulo. Era preciso "descolar" a frente do Carcará do asfalto para que ele andasse em linha reta.
O Carcará usou como paliativo estes pneus Pirelli diagonais, que no movimento da direção tinham reação mais lenta e deixavam o carro mais dirigível do que os radiais Cinturato, de menor atrito em linha reta e bem mais rápidos no movimento da direção, o que os italianos da Pirelli chamam de "Imediatezza di guida". Os técnicos da Pirelli estavam muito tensos: -- e se os pneus não agüentassem e dechapassem?
Anisio lembra que por causa do sol e pelo calor gerado nos pneus após os primeiros testes, a equipe decidiu montar os pneus nas rodas nas águas da Lagoa de Marapendi, em baixo da ponte, deixando os pneus que iam ser usados no teste "de molho" dentro da água para obter temperatura abaixo da ambiente.
Montando as rodas com pneus Pirelli resfriados nas águas do Canal de Marapendi
O Carcará atingiu na primeira tentativa, 214,477 km/h e na segunda 211,329 km/h, obtendo a média de 212,903 km/h, foi a primeira marca brasileira e sul-americana de velocidade em linha reta, de acordo com a regulamentação da FIA e homologada pela Confederação Brasileira de Automobilismo. O motor chegou a engripar, perdendo potência, mas ficou registrada a primeira marca nacional. 
O momento da quebra do recorde, passando pelos cronômetros Omega da Revista 4 Rodas

Um comentário:

  1. Acho impressionante essa história, nunca havia visto tantas fotos desse feito, gostei. Haja coragem para passar dos 200 apertado naquele cockpit pequeno, adrenalina a mil!

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