Em setembro de 1939 os alemães invadiram a Polônia. Era o início da II Guerra Mundial. Em 20 de janeiro de 1941, foi criado o Ministério da Aeronáutica. O Brasil declarou guerra à Alemanha e Itália no dia 26 de agosto de 1942. O 1º Grupo de Caça nasceu a 18 de dezembro de 1943 e começou a crescer quando foi nomeado seu primeiro comandante, o então Major Aviador Nero Moura.
Não foi fácil esse crescimento. É bom relembrar que em 28 de dezembro de 1943, a Aviação Naval e Militar ainda não estavam fundidas de fato; havia em jogo uma política pequena que, aos poucos, foi sendo superada graças à intervenção direta de oficiais jovens, cujo interesse principal era o de fortalecer a Força Aérea Brasileira.
Nero Moura, Faria Lima e alguns poucos a quem coube a responsabilidade de organizar o Ministério da Aeronáutica, foram os pioneiros dessa batalha. Venceram em virtude da eficiência da equipe responsável e da compreensão da grande maioria dos Aviadores da Marinha e do Exército. Estes colocaram os interesses particulares em segundo plano unindo-se para a criação de um Ministério forte, que pudesse se ombrear aos tradicionais da Marinha e Exército, já existentes. Isto foi conseguido
Antes da designação de Nero Moura para comandante, disputou com ele, a honra da comissão seu companheiro, colega de turma e amigo, José Vicente Faria Lima. Salgado Filho, primeiro Ministro do recém-criado Ministério, teve grande dificuldade em realizar a escolha. Ele era civil e qualquer posição havia que ser bem pesada.
Escolhido Nero Moura, Faria Lima simbolicamente incorporou-se ao Grupo. Como Oficial de Gabinete do Ministro excedeu-se em zelo e trabalho para que nada faltasse à Unidade. Ajudou o companheiro durante o planejamento em todas as etapas: no início, antes da partida de Nero Moura para Orlando, e depois operando na retaguarda, nos estágios de treinamento no Panamá e Estados Unidos e, finalmente, na fase em que o Grupo se engajou no Combate. A qualquer solicitação do Comandante ao Ministério, Faria Lima usava toda a força que tinha junto a Salgado Filho para atendê-lo. Daí a afirmação de que ele se incorporou, simbolicamente ao 1º Grupo de Aviação de Caça.
Investido o Major Nero Moura da função de Comandante do 1º Grupo de Caça, tratou imediatamente de cuidar da Unidade, procurando, dentro dos meios disponíveis na época, que ela crescesse unida, forte e sadia. O primeiro passo dado foi o de recrutar o pessoal que iria formá-lo. Optou pelo critério do voluntariado nas fileiras da FAB. Pilotos e especialistas em todas as categorias, atenderam ao chamado da Pátria. Entre eles, escolheu os seus homens-chave, 16 oficiais e 16 sargentos. Como segunda providência, deu a eles a atribuição e a responsabilidade da seleção dos auxiliares; aos Comandantes de Esquadrilha, a escolha de seus pilotos e, aos outros homens-chave designados para as chefias de manutenção, suprimento, armamento, comunicação, inteligência e serviço médico, a de seus comandados diretos. Assim, o Grupo foi tomando corpo.
Em janeiro de 1944, o Comandante seguiu com 32 homens-chave para Orlando na Flórida EUA, onde iriam fazer um período de treinamento de 60 horas nos caças Curtiss P-40 e adaptação das normas da US Army Air Force, na Escola de Tática Aérea. Em Março, Nero Moura embarcou com seus companheiros para Aguadulce, Panamá. O pessoal, que tinha vindo do Brasil, já o esperava naquela Base. Nessa ocasião, foi promovido ao posto de Tenente-Coronel Aviador.
Na Base de Aguadulce, o Grupo se constitui em uma unidade tática. Foi ali que nasceu o espírito de corpo do 1º Grupo de Caça. Pilotos e equipagens de apoio se entrosaram de tal modo que, já em abril, a Unidade passou a operar independentemente, tomando parte do complexo Sistema de Defesa Aérea da Zona do Canal do Panamá.
Terminado o treinamento, 110 horas de vôo nos caças Curtiss P-40 Flying Tiger e programas dedicados para os outros postos de trabalho, em Aguadulce, aquele que nasceu A 18 de dezembro de 1943 era quase adulto. Em junho, rumou para os Estados Unidos, onde na Base Aérea de Suffolk, Long lsland, NY, travou conhecimento com o Republic P-47-Thunderbolt, o mais moderno avião de caça da USAAF. O treinamento em Suffolk foi tão duro quanto o de Aguadulce. Concluído o curso, pilotos e equipagens de apoio estavam prontos para entrar em ação.
Era o grupo totalmente adulto agora, apenas, faltava-lhe experiência de guerra. Assim cresceu o 1º Grupo de Aviação de Caça, forte e sadio e, ao desembarcar no Porto de Livorno, Itália, a 06 de outubro de 1944, estava em condições de ser submetido à prova final, "o fogo do combate".
Durante a fase de crescimento ganhou o grito de guerra - "Senta a Pua!". Tudo começou no Panamá. Foi adotado espontaneamente. Nas missões simuladas de combate aéreo interceptação, formaturas, tiro aéreo e terrestre e bombardeio picado, já era usado pelos pilotos. Em terra era linguagem comum entre o pessoal de apoio.
Levado para Suffolk, foi ouvido muitas vezes nos céus de Long Island, dando motivo pela primeira vez à curiosidade dos companheiros americanos, que ali também se preparavam para a guerra. Explicar-lhes o significado era tarefa complicada. Traduza, você mesmo, o significado de "Senta a Pua!" para um estrangeiro e verá.
Pronto para embarcar para o Teatro de Operações, com o grito de guerra em todas os gargantas, faltava ao Grupo um emblema. Coube ao Capitão Aviador Fortunato Câmara de Oliveira, desenhá-lo. Apareceu, então, pela primeira vez, a figura atlética do Avestruz do 1º Grupo de Caça
"Senta a Pua!" - Quantas e quantas vezes o grito de guerra do 1º Grupo de Caça foi ouvido nos céus da Itália. Os ex-prisioneiros ao regressarem no final da guerra, dos campos de concentração nazistas, falaram da curiosidade mostrada por seus interrogadores em saber o significado desse grito.
Os números a seguir foram relatados pelo Sargento NEWTON Alves Leite, chefe da Seção de Ordem (Remuniciamento), do 1º Grupo de Caça durante a Segunda Guerra. Eles se referem ao total de armamento efetivamente usado pelo 1° Grupo de Caça contra o inimigo durante a Segunda Guerra.
Em junho de 1945, todos os 26 P-47D que estavam em poder do 1° GAvCa foram levados em vôo até Capodichino, ao AAFSC/ MTO, onde foram desmontados e enviados por via terrestre para Nápoles, para serem embarcados para o Brasil. No traslado, o P-47D-27-RE n° 42-26788 acidentou-se durante o pouso em Capodichino, sendo considerado perda total. As 25 aeronaves restantes foram embarcadas e transportadas ao Brasil no USS W. S. Jennings. O pessoal de terra e parte dos oficiais aviadores voltaram para o Brasil a bordo do navio de transporte de tropas norte-americano USS General M. C. Meigs (AP-116), navio encarregado de conduzir o 1° Escalão da Força Expedicionária Brasileira, embarcando no porto de Nápoles em 06 JUL 1945.
Para fazer a travessia EUA - Brasil, em primeiro lugar foram escalados os pilotos abatidos e que ficaram prisioneiros do lado inimigo, seguidos, em ordem decrescente, pelos pilotos com maior número de missões. O grupo de 19 oficias (Nota do site: Segundo o Company Morning Report do 1º GAvCa de 16 JUN 1945, o grupo era composto por 20 oficiais, pois havia um piloto reserva) que trariam as aeronaves P-47D-40-RE Thunderbolt novas, em vôo a partir dos Estados Unidos, decolou de Pisa rumo a Nova York em 14 JUN 1945, chegando ao seu destino em 16 JUN 1945. De Nova York, viajaram para Washington de trem, lá chegando em 20 JUN 1945, onde foram recepcionados pela USAAF no Shoreham Hotel e pelos generais Ira C. Eaker e Hoyt Sanford Vandenberg no Pentágono.
Em 16 JUL 1945 os primeiros pilotos do 1° GpAvCa pousavam no Campo dos Afonsos. Acompanhando o vôo dos Thunderbolt veio um Douglas C-47, atuando como aeronave de apoio. Nele vieram o 2° Ten. Av. Marcos Eduardo Coelho de Magalhães e o 1° Ten. Av. Roberto Brandini, ambos recuperando-se dos ferimentos em combate (Nota do site: Na verdade os dois pilotos que vieram no C-47 eram o Ten. Coelho e o Ten. Lara - piloto reserva. O Ten. Brandini retornou ao Brasil no navio como pode ser visto na primeira foto da fotogaleria 5 - Cotidiano). O USS General M. C. Meigs, transportando o restante dos pilotos e o escalão terrestre, chegou ao Rio de Janeiro em 18 JUL 1945.
Oficiais aviadores que retornaram da Itália no USS General M. C. Meigs
2º Ten. Av. Armando de Souza Coelho
2º Ten. Av. Danilo Marques Moura
2º Ten. Av. Diomar Meneses
2º Ten. Av. Fernando Correa Rocha
Asp. Av. Fernando de Barros Morgado
2º Ten. Av. Fernando Soares Pereyron Mocelin
2º Ten. Av. João Milton Prates
Asp. Av. Jorge Maia Poucinha
2º Ten. Av. Raimundo da Costa Canário
2º Ten. Av. Roberto Tormim Costa
Os pilotos que vieram voando dos EUA foram ao cais do porto encontrar-se com o restante do grupo e de lá partiram junto com as tropas de infantaria em desfile popular que tinha como destino a Praça Mauá, desfile esse que ficou conhecido como a "Parada da Vitória". Os membros do 1° GpAvCa seguiram em viaturas abertas, logo atrás das tropas de infantaria da FEB, com o povo contido por cordões de isolamento.
Texto extraído do livro "Um Vôo na História" do Brig. Nero Moura.
Só não admiro mais porque meu avô era da FEB. Mas os brasileiros surpreenderam muito os gringos. Eram como pequenos tanques de guerra, sempre dispostos e sempre avançando. Pena que os brasileiros perderam (sem generalizar) esse brio, que tanto os destacou no passado.
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